sábado, 29 de maio de 2010

turbinando a realidade

Dia desses um amigo meu contou uma passagem complicada de sua vida. Confesso que conforme ele foi dissertando os fatos comecei a imaginar cenas, falas e tudo mais.

É assim mesmo, tudo que se ouve, tudo que surge à frente vira história. Porém é sempre bom mudar uma coisinha aqui outra ali pra não dar muito na cara.

Exemplo 1:

Um dia o celular tocou, atendi, era minha irmã com voz calma me dizendo que meus pais enfim iriam se separar. Uma ação simples, sem desespero, até mesmo compreensível.

Exemplo 2:

Um dia o celular tocou, atendi, era minha irmã com voz estranha dizendo que meus pais haviam brigado feio, minha mãe quebrara um prato na cabeça dele. Aos gritos eles resolveram se separar.

Conclusão, meus pais se separaram já faz tempo, o telefone realmente tocou, mas os complementos da história ficaram por minha conta. É assim que a realidade funciona quando a tomo como argumento para meus contos, um simples aperitivo.

Dos dois exemplos acima fica a dúvida de qual deles é o verdadeiro. Nenhum, os dois?

Para uma história verídica se tornar tema de livro ou roteiro, no meu ponto de vista, temos que dar aquela ‘turbinada’, aquele realce intrigante para deixar o recheio ainda mais saboroso.

AMOR à OBRA

Ego, raiva, tormenta, impulsos. Um roteirista tem que ter seus sentimentos muito bem organizados. Principalmente nos primeiros trabalhos, quando ainda está construindo seu nome profissional. Eu como estreante estou passando por esse turbilhão.

Existem sutis, porém importantes diferenciações entre cada trabalho. Quando você é contratado por uma produtora donde uma ideia já existe, por mais que crie uma história alucinante em cima de um argumento mínimo, por mais que se desdobre, dê vida a personagens incríveis, parceiro, quem leva a fama é o diretor. Injustiça? Não sei. O negócio é desapegar à obra, mesmo.

Não que eu tenha uma bagagem absurda, muito pelo contrário, mas baseando no que venho aprendendo, outro importante conselho aos roteiristas é pouco frequentar os sets de filmagem. Você vai ver sua história sendo destrinchada, virada do avesso e nada poderá fazer para salvá-la.

Quando se é contratado, o roteirista pouco tem a dizer depois que a obra foi entregue à ‘diretoria’, afinal, a premissa não surgiu da sua imaginação. Por isso, o negócio é desapego à obra.

Entender os percursos, saber se deter no papel de coadjuvante, isso é fundamental pro controle emocional de um novato. No entanto essas condições fizeram nascer em mim a vontade de produzir. Ser contratado, trabalhar em cima de um argumento pré-existente, ok! Não vou me importar com os resultados.

Agora, naqueles roteiros que surgiram de uma ilusão íntima, os quais vi nascer, desenhei cada cena, cada diálogo, cada tudo... Esses não há diretor que vá revirar, retalhar, tomar como seu. Por isso decidi que esses, eu mesmo vou fazer.

Por mais que seja importante trabalhar dentro de si o desapego às obras, em alguns casos o amor a elas vai pedir, vai insistir em ficar.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

personagens parte 2

Continuando o papo sobre personagens, darei voz aos sentimentos que me ocorreram durante as gravações da série. Mas antes quero explicar que “estalo é aquele plim repentino que clareia todos os pensamentos.

Vamos lá então, à série: surgiu a ideia dos três agentes policiais serem comandados por um delegado superior. Após o “estalo” esta pessoa tornou-se uma mulher, bonita, na faixa dos 40, ativa e impiedosa. Talhado o perfil e a identidade dessa figura, simpaticamente batizada de Dra. Rocha, só faltava então dar asas aos acontecimentos.

Dra. Rocha é um exemplo fiel de como um personagem ultrapassa a barreira da ficção e acaba respondendo por seus atos. Principalmente depois que conheci a atriz que a interpreta, a excelente Priscilla Alpha.

Na metade do caminho a Rocha já tinha soprado no meu ouvido o seu futuro. Naquela altura meu poder de discordância era inútil. O destino era dela e ela o conhecia melhor que ninguém.

Essa mistura de sensações dúbias me fez acreditar e ter fé que apesar de ser uma invenção, existe sim algo de sobrenatural em qualquer obra dramática.

Abrindo aspas, não posso cometer injustiças e louvo o trabalho impecável dos atores da série, em especial, Sílvia Lourenço e Sérgio Cavalcante.

(na foto deste texto, apresento-lhes, Dra. Rocha.)

personagens

Não tenho dúvidas! A peça fundamental de qualquer história é o personagem. Ele viverá a ação, sofrerá as consequências, tentará buscar custe o que custar o seu final feliz, mesmo que esse não aconteça. É o personagem quem vai se expressar, morrer, é ele quem vai vingar tudo aquilo que for posto no seu caminho.

Construí-lo numa folha de papel é algo de misterioso, às vezes me sinto psicografando, eles tomam vida própria, não preciso nem pensar. A coisa vem como se eu fosse o pararraio de uma trama já existente em algum lugar invisível. Na imaginação, talvez.

Contudo, agora falando de roteiros, quando um personagem ganha um corpo, um ser humano que se deixará possuir, tudo muda de figura.

Num primeiro instante você acaba achando graça, ver aquele cidadão vestindo a roupa que visualizou, fazendo a cara que pensou, falando aquilo que julgou importante... Segundos mais tarde a realidade desaparece. Quando um ator começa a acrescentar detalhes ou mesmo sua própria visão do personagem, o criador percebe que seu trabalho terminou, já era, ponto final. E isso é muito bom, essa surpresa, essa mistura de visões.

Um bom ator pode despertar no personagem uma dimensão muito melhor que a imaginada. Entretanto o contrário pode acontecer, e um personagem fantástico acaba diminuído pela atuação, mas isso fica para um outro papo.

Para mim o personagem é alguém sem rosto, um ser disfarçado procurando entre prováveis anfitriões, aquele perfeito, o escolhido, o alguém exato para confortar sua alma inquieta.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

CRIA-AÇÃO

A criação é uma coisa muito louca mesmo. Já li e ouvi vários escritores dissertando sobre seus métodos. Woody Allen, Ignácio de Loyola Brandão, todos, principalmente Ignácio, são daqueles que saem por aí prestando atenção no cotidiano, na existência comum, nas pessoas.

A vida real é a maior inspiração. Eu sou como eles, saio por aí, vou andando sem rumo. Meu lugar preferido é o botequim, vou sozinho mesmo. Já me perguntaram por que gosto de ir ‘eu-comigo’ beber uma geladinha. Claro, adoro sair com amigos, companhia, conversar bastante, mas também adoro passear em surdina, fitar, investigar. Entre 18 e 19 horas é meu horário preferido, fico na varanda, observando o vai e vem de figuras. São Paulo é uma grande caixa de argumentos, é só olhar para o lado e pimba, lá está a nova história.

Já escrevi sobre isso, um dia me encomendaram um ‘curtinha’ o qual batizei de CORPO URBANO. Era sobre um rapaz obcecado pelas conversas alheias. Por onde esbarrava afiava os ouvidos e punha-se a escutar o destino dos outros. Porém, o destino dele não saiu bem à sua vontade.

Não importa os métodos de criação, cada autor tem o seu, o importante é nunca fechar os olhos, não deixar passar despercebida uma história maravilhosa que pode estar bem ali, no próximo gole de cerveja.

(na foto, uma homenagem ao Ignácio L. Brandão.)

bipolar

Na última conversa disse que BIPOLAR tratava-se de um projeto cinematográfico. Pode estar pensando, mas não é um programa de tv? Sim, é uma série para tv, mas que foi exclusivamente rodada nos moldes de cinema. Posso dizer que é um ‘filmão’ de 360 minutos que será exibido em episódios de 30.

Nesse papo vou contar um pouco dessa história.

Quando minha presença foi confirmada como roteirista, fiquei um pouco grilado por conta de ser mais uma série policial. Depois de Tropa de Elite fomos metralhados por diversas produções com esse tema. No entanto respirei aliviado quando ficou decidido que o universo policial ficaria como pano de fundo. Iríamos explorar o lado psicológico dos três agentes em foco, Diana, Latrina e Carlão.

Pra mim foi um prato cheio, como disse, fazer um drama é comigo mesmo...huahua (não pude desperdiçar o trocadilho)!

A história gira em torno desses três policiais de caracteres e personalidades perturbadas, envolvidos numa perigosa trama permeada por situações extremas e personagens misteriosos. Pouco a pouco vamos descobrindo que o passado de cada um deles é também um importante condutor de suas ações contraditórias onde os conceitos de céu e inferno, os dois lados da moeda, serão questionados a todo o momento. Daí veio o nome.

Alô!

Um dia toca o telefone, era o diretor Edu Felistoque, premiado por seus documentários e pra qual produtora eu já havia escrito alguns institucionais. Nessa ligação ele me fez a inevitável proposta, “estou a procura de um roteirista pra estrear na minha série de tv, você topas?”

Responsabilidade, preocupação, tempo, ideias... Nada disso passou pela minha cabeça, apenas pensei comigo “essa é a hora”. Minha resposta foi: tô dentro!

Nesta época, outubro de 2009, estava atribulado com os preparativos da 33ª Mostra Internacional de Cinema SP, da qual faço parte da equipe de produção desde 2003 e o único horário livre que tinha, juro, eram as madrugadas.

A data para o início das gravações já estava marcada. O Felistoque, mesmo sem exercer qualquer tipo de pressão sobre mim, precisava de uns primeiros rabiscos. Imaginem só, ele entregando às mãos de um novato os 12 episódios de seu novo projeto “cinematográfico”... Loucura? Não, uma aposta.

Foi nesse cenário que comecei inventar as histórias. A princípio a série levaria o nome de Bipolares, não me agradava muito, sugeri no singular. Sugestão aceita, primeiros rascunhos aprovados, sinal verde pra poder viajar o quanto quisesse e finalmente nasceu BIPOLAR.

A liberdade de criação dada pelo diretor foi importantíssima para não me sentir preso ou impedido de conduzir a história à lugares inusitados. Baseado na ideia original fecundada na mente de Felistoque e fermentada na minha, creio que o resultado foi além das expectativas.

Em ‘páginas’ deixo o trecho inicial do roteiro. Comparações com o resultado final poderão ser feitas após a estreia no Canal Brasil.

Ser ou Não Ser? Um profissional...

Nada de vestibular, nada de formatura. Mas como em qualquer profissão existe um ‘ritual de iniciação’ a todos os escritores de tv ou cinema.

Para um roteiro não criar teia dentro da gaveta é preciso produzi-lo e meu amigo, isso não é tão fácil como parece.

É assim que um roteirista começa sua profissionalização, tendo sua obra filmada e principalmente veiculada em algum meio audiovisual.

Depois disso o pretendente está apto a se associar às instituições e associações de roteiristas brasileiros (ARTV e AC).

Comigo, após muito ralar, finalmente consegui uma chance de mostra serviço e mostrei. Minha estreia acontecerá no segundo semestre deste digníssimo ano de 2010 com a série Bipolar.

Apesar dos roteiros cinematográficos que criei e que aos poucos estão se transformando em projetos, foi na tv que encontrei minha primeira porta aberta.

Não nego que já fui fã de novela, seriados adolescentes e tal e coisa, entretanto as séries estrangeiras passaram a despertar em mim grande interesse. Claro, em 30 minutos e uma historinha contada. Pensei, acho que posso fazer isso e foi o que aconteceu.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

ERA CÓSMICA

No item páginas (aí do lado) deixo os primeiros capítulos do meu livro ERA CÓSMICA (ainda não publicado) e que enfim estou conseguindo corrigir.

Esta história surgiu em 1997, num desses cadernos dos quais já comentei. Nessa época adorava história em quadrinhos e comics de super-heróis, daí veio a inspiração.

Em 2004 decidi que iria escrevê-lo novamente pois julgava se tratar de uma história interessantíssima, no entanto precisava de algo mais implacável, situações e dramas mais intensos, como suicídio, poderes sobrenaturais, traições e amores quase impossíveis. Em meados de 2005 concluí esta saga futurista onde megassexuais, clones e Psaics reinventam e "tropicalizam" o tema ficção-científica. Sem imaginar foi assim que me descobri um provável autor infanto-juvenil.

SOBRE ROTEIROS

Após os primeiros rabiscos e rascunhos, fui presenteado por Lu Lopes, amiga de longa data e produtora de cinema, com aquele famoso livro do Syd Field, a bíblia da construção de roteiros.
Em um dia devorei as cento e poucas páginas, cinco dias depois estávamos nós correndo pelos corredores do aeroporto de Guarulhos levando este, que seria meu primeiro roteiro, às mãos do diretor. Ele procurava por um novato como eu. O roteiro foi passear na Europa, eu não... huahua!
Este projeto infelizmente não vingou de imediato (ainda tenho planos de resgatá-lo), mas foi o suficiente para conseguir um curso e acabei me especializando.
Sem conseguir deter minha imaginação, dois novos roteiros surgiram em menos de seis meses, dois ‘longas’ (tenho preferência por criar longas-metragens e drama. Talvez por isso escrever um seriado de 12 episódios não foi pra mim um Tiamat – essa história com mais tarde).
Um desses ‘longas’ é Uma Valsa Para Charlote.
Posto as primeiras páginas deste roteiro no 'gadget' lateral intitulado páginas.

AINDA eu

Após a faculdade de Comunicação rumei para São Paulo a fim de dar vida útil aos meus sonhos musicais, mas acabei inserido no mundo do cinema e de repente me vejo escrevendo meu primeiro roteiro.
Esse negócio de escrever sempre fez parte da minha vida. Primeiro, lá pelos 11 anos, todos os filmes que assistia pegava um bloquinho e os copilava com letra de mão. Mais tarde continuava os reescrevendo, porém mudando um acontecimento aqui, outro ali. Depois de tempos finalmente escrevi minha primeira ‘historinha’ sem nenhuma interferência televisiva, este pequeno conto se chamava Deuses do Além, huahuahua, que nominho... pra verem que desde o início o realismo fantástico já me perseguia.
Durante a adolescência foram vários os ‘pseudolivros’ escritos em cadernos de escola que guardo até hoje. Muitos argumentos e passagens surgidos nestas pequenas prévias em letra corrida, deram origem a trabalhos que julgo de grande importância na minha trajetória como roteirista e futuramente romancista.
Um exemplo disso são Era Cósmica, Mordida, Eros Satã (que será a próxima aventura).

EU

Sou Júlio, nasci numa pequena cidade do interior de São Paulo chamada Espírito Santo do Pinhal, em Agosto de 1976. Tive uma infância ativa, éramos uma dezena as crianças em minha rua e todas as brincadeiras, todas as peraltices com certeza se tornaram bagagem para esse mundo de ilusão que tomei como profissão.
Durante esta época, por vim de uma família com descendência italiana com uma pitada espanhola, cresci ouvindo mirabolantes contos, fábulas, histórias que às vezes ficava em dúvida se realmente aconteceram ou se eram uma alucinação de meus avós e todos os outros familiares.
Só sei que meu inconsciente guardou a maior parte delas.
Com o passar do tempo acabei vivendo minhas próprias aventuras, sempre rodeado de amigos, sempre nos metendo em situações pra lá de insólitas. Hoje, olhando o passado, também não sei direito o que meu cérebro dramatizou ou como estas ‘loucuras’ realmente aconteceram.

O Início

Caros amigos,

Criei este blog para postar pequenas introduções dos meus trabalhos como roteirista e escritor de romances.

Acredito que desta forma minhas invenções estarão mais perto daqueles que têm curiosidade em conhecer os caminhos usados pela imaginação.

Vou comentar sobre o nascimento das histórias, os personagens, um pouco dos meus sentimentos em ver esse universo criado na solidão de minha casa tomando vida própria, quebrando as correntes e escapando à liberdade.

Primeiro farei um rápido passeio pela minha vida, penso que vale a pena conhecer um pouco do criador para entender suas criaturas.

Seguidores

Quem sou eu

Minha foto
São Paulo, Brazil
Roteirista de tv e cinema. Romancista. Idealizador. Produtor. Talvez um ilusionista...