segunda-feira, 29 de agosto de 2011

e vovó já me dizia...

1 ano! Na próxima sexta-feira, 02 de setembro, completo um ano como roteirista profissional.

O que significa ser um roteirista profissional? Nas normas da associação de roteiristas e todos os afins dessa enredada arte, um profissional é aquele que já teve uma obra de sua autoria produzida e difundida em algum meio de comunicação em massa. No meu caso, fui roteirista da já aqui mencionada série Bipolar, e também participei da equipe de colaboradores do filme Inversão.

É claro que não esperava nenhuma ascensão relâmpago, muitos podem não acreditar, mas tenho os pés bem fixos no chão. Também já disse aqui que após essa minha estreia, realmente visualizei um futuro, um caminho profissional a ser seguido, e só o consegui vislumbrar após 34 anos de existência. Será que se trata da fatídica adolescência tardia de que tanto falam?

Como diz um amigo meu: “não tá fácil pra ninguém”. Confesso que não vim aqui hoje para chorar as pitangas dos percalços dessa área profissional que de repente tornou-se “aquilo que quero fazer pelo resto da vida”. A concorrência está em todos os campos, da gastronomia à contabilidade, da saúde ao turismo, enfim, o mundo moderno chegou e com ele um milhão de profissionais sendo despejados aos montes no mercado. Mas... Existem vagas para todos? Como vencer essa competição? É o que estou tentando descobrir.

Ganhar a vida com literatura, roteiros ou com a escrita em si é algo para poucos, e isso não é só aqui no Brasil. Serei eu um desses poucos?

Lidar com a frustração, caso não se consiga ir além, é talvez o mais difícil para aqueles que são apaixonados por qualquer tipo de arte. Música, atuação, as plásticas, ou seja, estamos todos mergulhados numa vertente bastante complexa. É como já dizia minha avó: “É muito difícil viver de arte”. E estou sacando que é mesmo.

Nesse um ano já me desdobrei em mil funções. Estou sobrevivendo, porém não enriquecendo. Já me mandaram fazer concurso público, já me ofereceram trabalho fixo a preço de banana, já me mandaram para a p... ponta da praia, contudo continuo aqui, continuo querendo me aprofundar cada vez mais no árduo ofício do escrever. E agora, pra complicar a parada, existe uma vontade pungente dentro de mim querendo experimentar a dramaturgia, o teatro.

Hoje estou mesmo um verdadeiro ‘citador’, e com diz uma amiga de longa data: “não podemos fugir de nossa verdade”. Entretanto me pergunto até que ponto essa verdade vai me trazer frutos?

Claro que não quero ser chato e nem estou criticando ninguém, a dúvida é minha, a crise é minha e a vontade da arte também é minha.

Desistir? O que faço então com essas mil ideias que brotam diariamente na minha cabeça? Vou trancafiá-las dentro de uma repartição pública? Qual frustração é mais dolorosa, a de abdicar de sua vocação por um punhado de dinheiro do governo, ou arriscar seu futuro atrás de uma paixão que está impregnada no próprio DNA?

É... Não está fácil pra ninguém, mas eu ainda vou arriscar por mais algum tempo. Se minha verdade é difícil como dizia vovó, vou seguir meu instinto, ir a luta, correr atrás de minha sombra e minha água fresca que passarinho não bebe.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

pra gringo ver?


Acabo de abrir meu provedor de e-mails e antes de conseguir ler meus recados fui atropelado por uma infinidade de notícias, ou pelo menos manchetes atraentes, que, bastando um simples clicar, me trariam à tela tudo o que está acontecendo pelo mundo. Não ignoro o fato de que a internet é mesmo algo de fantástico, um giro pelo planeta em apenas um piscar de olhos.
Decidi passear pelos assuntos do momento antes de ler meus e-mails profissionais. Tinha de tudo ali: o plano contra o avanço da inflação, autoridades no assunto jurando que o país jamais voltará a ser assombrado pelos fantasmas da década de oitenta; falavam sobre o caso Murdoch, que abalou a “impoluta política” inglesa; falavam também do assassino serial que acabou com a vida de mais de setenta na Noruega, “Justo na Noruega, um país tão civilizado!?”, pregava alguém, “E por que não lá, por que só aqui?”
Vi também matérias sobre como cuidar melhor da pele no inverno, como se proteger da gripe do inverno; culinária, e claro entretenimento. E qual é a maior fonte de entretenimento do brasileiro? A TV, em especial as novelas. Foi aí que me veio a deixa, “roteiros”, para poder comentar aqui neste blog temático. Em destaque: “Mortes esquentam semanas finais da sua novela das nove”.
Faz muito tempo que as novelas já não são meu filão preferido, a não ser as antigonas que estão sendo exibidas num canal a cabo. Essa novela das nove, em especial, nunca me atraiu em nada, mesmo assim, como roteirista que sou, resolvi dar uma espiadela na manchete. As mortes: o galã afro-descendente iria ter os testículos arrancados depois de diagnosticada doença; casal gay iria morrer depois de playboyzinho declarar que “veado bom é veado morto”; e novamente, o vilão iria ser assassinado para capítulos depois ter o nome do carrasco (ou seria vingador?) revelado.
Juntando matança na Noruega, matança em Realengo, morte de cantora drogada, gays sendo atacados nas ruas, 250 mortos em acidente de avião mal explicado... Será mesmo que a criatividade acabou?
Então as perguntas começaram a atormentar meu pensamento criativo:
“O que pode realmente influenciar uma dita população desavisada: o tal beijo gay do qual tanto se fala, ou o massacre dessa fatia da população em pleno horário nobre?”
“Por que o galã negro tem que morrer e não se converter, ser feliz? Vamos mostrar a essa população careta que qualquer um, independente de classe, cor ou orientações pode ter um futuro interessante.”
“E esse vilão fajuto, assassinado?”
Poxa, existem tantas formas de se castigar um vilão, principalmente numa história fictícia. Tudo se tornou muito chato, o politicamente correto está acabando com a inventividade de nossos escritores. Não estou aqui falando como um candidato a romancista, e sim como um espectador frustrado.
Compara-se tanto Brasil e EUA, “Um Oscar para os tupiniquins”, “Filmar em Hollywood...”
A telenovela brasileira é imbatível, mas a ignorância da maior parte do público também. Lá, na gringa, séries com protagonistas negros já existem há séculos; beijo gay acontece pelo menos uma vez por dia; um destino insólito para vilões não menos egocêntricos é o que mais se vê, e tudo sem alarde. São temas polêmicos inseridos no cotidiano da televisão sem causar esse alarme tão desnecessário. O roteiro precisa ser livre, deve acontecer sem drama, o espectador uma hora ou outra vai achar normal, comum, por isso existe a classificação etária, entretanto, existem também aqueles pais que largam seus filhos na frente da TV sem se importarem com o conteúdo que está sendo consumido, sem educá-los na medida certa.
Não estou generalizando e nem dizendo para o Brasil copiar os EUA, nem tão pouco alegando que a receita deles é melhor, estou dizendo que, já que imitam tanta coisa errada dos americanos, é hora de começar a beber na água daquilo que eles têm de menos pecaminoso.

domingo, 10 de julho de 2011

inspiração sem parcimônia

Muitas ideias para livros, argumentos para roteiros ou séries de TV, às vezes, nascem num dia em que o autor está lá, ouvindo uma musiquinha e de repente, pimba... a tal canção serviu como um misterioso passe de mágica para a inspiração vir com força total. Não que o que será escrito seja obrigatoriamente uma versão cinematográfica da música.

Escolher canções para a trilha sonora também é um ótimo exercício. Eu como autor, gosto de criar minha pastinha de ‘sons’ destinados à obra em construção.

Tenho grande predileção pelos artistas (cantores e compositores) brasileiros, e hoje, quando decidi escrever algo para o blog, logo me veio à mente João Bosco. Faz algumas semanas que ando escutando bastante esse consagrado nome de nossa arte, e me ocorreu, sim, que João é mesmo um grande escritor. Existe um algo de pós-moderno, talvez um neofuturismo que poucos conseguem identificar nas palavras organizadas e lapidadas por ele, para em seguida serem ritmadas com precioso esmero.

Me ocorreu também como todas as formas de literatura se confundem: a poesia, a música, os livros, as novelas, os roteiros.

Para existir o ‘algo a mais’, para ser destaque entre tantos concorrentes a uma vaga na Academia de Letras, é preciso experimentar, ir além do jogo de adjetivos e metáforas. João faz isso com total identidade e impressionismo.

Abaixo posto a letra de uma música criada por ele chamada Jade. Percebam os toques sutis das palavras, um jogo diferente, essa louca brincadeira no modo de compôr.

Jade virou hit aqui em casa, e com certeza fará parte de um próximo roteiro. Ando acordando com Jade já bailando em meu íntimo, ando viciado nela, nesse misterioso cubanacã, no quilate de mel, nessa excitante língua no céu de luz talismã, que de olhar verde abriu-se Sézamo em mim, pro fundo do oceano prá cá de ali.

É um prazer poder escutar Jade repetidamente e me encher de inspiração usando, sem parcimônia, da inspiração de João.


Jade (João Bosco)

Aqui meu irmão ela é coisa rara de ver
E jóia do Xá retina de um mar
De olhar verde já derramante
Abriu-se Sézamo em mim
Ah! meu irmão aqualouca tara que tem ímã
Mergulha no ar me arrasta me atrai
Pro fundo do oceano que dá
Prá lá de babá prá cá de ali
Pedra que lasca seu brilho
E que queima no lábio um quilate de mel
E que deixa na boca melante
Um gosto de língua no céu
Luz talismã misterioso cubanacã
Delícia sensual de maçã
Saborosa manhã
Vou te eleger vou me despejar de prazer
Essa noite o que mais quero é ser
1001 pra você....
Jade...Jade...Jade...

sábado, 9 de julho de 2011

ERA CÓSMICA - já à venda!



Olá pessoal, meu primeiro livro já está disponível nos sites de autores independentes Clube de Autores e AgBook.
Aos que curtem uma aventura sideral estão convidados a dar uma passadinha por lá.
Para a curiosidade de todos, publico a sinopse. Grande abraço.


ERA CÓSMICA

Realidade, ficção, um sinal de Deus... Será mesmo que a imensidão do cosmos guarda um abominável segredo, ou tudo não passa da mais simples evolução da raça?
Num futuro próximo, onde a ciência alcançou feitos magníficos, onde megassexuais e clones se confundem com homens e mulheres naturais, um inexplicável olho eletrônico invade o cotidiano de nossas vidas para sondar a realidade terráquea.
O que ele encontra? Intolerância terrorista e vinganças diabólicas.
Mas o que esse intrigante olho não consegue descobrir são as prodigiosas Habilidades Especiais que alguns seres humanos passaram a desenvolver. Quase sempre jovens, os chamados Psaics precisam manter em sigilo suas verdadeiras identidades, pois o mundo ainda não está preparado para aceitar a existência de uma nova linhagem.
Dentro desse evolutivo, porém cético futuro, o que ninguém jamais poderia supor é que uma nova Era está prestes a se apoderar de nosso indefeso planeta.
Criado numa atmosfera transcendente onde a cultura tropical é o novo charme do mundo, onde a amizade e o amor estão acima de qualquer obstáculo, sonhos espaciais e segredos inconfessáveis se misturam a aventuras místicas e vida além da vida.
O misterioso universo da realidade-fantástica pronto para ser explorado.
Sejam muito bem vindos.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

sensações...

Essa é para os amigos que gostam de vez em quando passar por aqui. Lembrando que só escrevo quando tenho algo relevante pra falar sobre roteiros. Hoje tenho.

Deixei a pizza esfriando e vim correndo teclar. Talvez pelo dia ter sido conturbado, coisa que vai coisa que vem, trabalhos complicados, projetos cancelados, o frio, aquela saudade que insiste em ficar, uma saudade de um tempo que passou, de um cheiro que ficou, de pessoas, de lágrimas, de sorrisos... hoje estou sentindo até mesmo saudade antecipada, uma saudade daquilo que está por vir, mas que em pouco tempo ficará para trás, distante.

No cotidiano da cidade grande tudo é motivo, porém como venho do interior, sei que o cotidiano de uma cidade pequena também nos reserva surpresas, encontros, encantos, situações desfavoráveis, mas tudo superável. Até a saudade que disse acima, num instante, será superada para com certeza outras chegarem.

Tudo ao nosso redor nos desperta sensações. O campeonato que ficou pro ano quem vem; quem é o pai do filho da Maria de Fátima Accioli; o dinheiro acabando, o dinheiro que ia cair e caiu... mas pra fora de nossa conta.

Tudo nos causa um sentimento e uma reação. O fim do programa da Oprah; o filme do amigo que deixou a desejar; a bermuda que manchou na pia com alvejante; o dente doendo; essa pizza que estou comendo e que veio trocada. Então manda destrocar!!!

Outra sensação e que há tempos não me permitia sentir é o gostar. O gostar traz implícito em seu significado uma infinidade de outras sensações que a mim, por muito tempo afastado deste território, às vezes parecem extremas demais.

Daí alguém me pergunta, mas o que toda essa prosa tem a ver com roteiro? Tudo. Absolutamente tudo. Todas essas sensações em algum instante serão utilizadas, serão a alma de um personagem.

Como um escritor pode criar uma história, como ele pode dar um quê a mais, criar um alguém imaginário marcante, que permaneça na retina do público por anos a fio sem se permitir, sem experimentar tantas sensações que estão por aí ao alcance de qualquer pessoa?

Sei que podemos inventar, supor... contudo, o presenciar, o deixar correr pelas veias é um laboratório muito mais proveitoso.

Sendo assim, boas sensações para todos.


(a trilha desse texto: Mushaboom - Feist e Us - Regina Spector)

terça-feira, 3 de maio de 2011

em breve...

Uma nova aventura está para começar!

quarta-feira, 16 de março de 2011

um tema pra chamar de seu.

Passado o carnaval, passado o Oscar, enfim o ano começou pro Brasil e pra mim também. Fazia algum tempo que não postava nada inédito. Estava esperando a inspiração vir me trazer um assunto novo e que realmente encaixasse no tema deste nosso espaço: roteiros.

Escolhi falar sobre ‘temas’.

Já percebeu com tudo gira em torno de um tema? Até mesmo a escola de samba escolhe um tema para trabalhar durante o ano e apresentar em fevereiro. Música tem um tema, o ano tem um tema, 1976 foi o ano do dragão.

Claro que estou generalizando, contudo é sobre os mistérios que envolvem a escolha de um mote que vou falar.

Como nossa imaginação consegue de tanto vagar, repentinamente nos entregar um tema para ela mesma dissertar sobre?

Entre minhas séries favoritas, ultimamente, está “Weeds”. Pesquisando na rede dias atrás, conheci quem está por trás da criação desta obra televisiva pra lá de doidona. Foi aí que me veio a pergunta: como Jenji Kohan, uma feiudinha com cara de nerd, teve a brilhante sacada de contar a trajetória [e de forma bastante humorada (um humor negríssimo, diga-se de passagem)] de uma traficante de drogas gostosona e sua família de quase criminosos?

Pois é, quem vê cara não vê capacidade criativa, sou fã de Jenji, assim como passei a ser do Christopher Nolan, diretor e roteirista de um dos melhores filmes, se não o melhor, do ano de 2010.

Vou falar um pouco dos filmes candidatos ao Oscar. Não que eu seja um obcecado, mas me interesso em saber quem são os indicados, se possível até assisto todos. Não vou falar de vencedores ou perdedores, vou me conter nos temas.

É no mínimo surreal, pra não falar transcendental, o instante em que o criador descobre qual será o próximo filme, ou melhor, sobre o que ele irá tratar.

Claro que é preciso pelo menos um pouquinho de atenção para optar-se por um tema que chame a atenção dos espectadores, ou seja, que tenha apelo comercial.

“Rede Social” é isso, pensaram num tema que despertaria não só a curiosidade dos jovens, mas de todos aqueles ligados na internet e em suas incríveis páginas de relacionamento.

E o que seria ainda mais hipnotizante? Contar a história de como a maior delas surgiu.

“Cisne Negro”. Fico aqui matutando como o criador concebeu o primordial cerne de sua ideia?

O tema escolhido: Lago dos Cisnes, a batida saga daqueles dois patinhos bonitinhos travestidos em bailarinas. Entretanto o que se viu no cinema foi uma concepção moderna, evolutiva, sensacional. O tema parecia nunca antes ter sido usado.

Sei que já está um pouco tarde pra escrever sobre filmes do Oscar. OK! Mas o filme de que mais gosto é o que mais tem a ver com esse negócio de tema, e fala exatamente de como uma ideia pode conduzir nossas vidas.

Fico eu aqui tentando lembrar como minhas próprias ideias, como os temas que lanço mão em minhas histórias chegam até mim, me atropelando, me arrastando pelos pés; e quando a ‘parada’ é boa, só descanso depois de vê-la escrita e concluída.

“A Origem”, do já citado Nolan, é sem dúvidas meu preferido. Sem falar naquele elenco bacanudo com Marion Cotillard (a eterna Piaff), Joseph Gordon-Levitt (o eterno apaixonado por Summer), Leonardo DiCaprio (o eterno presuntinho congelado), ah, e Ellen Page (a eterna Juno).

Bom, piadas a parte, o tema de “A Origem” vem de uma ideia fabulosa: nada mais inexplorável do que os sonhos. A forma como o roteiro é conduzido, as viradas, o pessoal flutuando, os ‘chutes’ (tem que assistir pra saber o que é um chute). Meu, que ideia, que tema!

Daí, volto a me questionar: como nós escritores ou qualquer pessoa que goste de sentir o prazer alucinógeno de inventar histórias... Em que momento da criação descobrimos qual será o tema de nossa próxima viagem?

terça-feira, 15 de março de 2011

bipolar de volta!

A série BIPOLAR está de volta no Canal Brasil.
Pra quem não viu da primeira, tá aí uma segunda chance.

Aos domingos 20h30.
Horário alternativo: sábado pra domingo 02h.

Boa aventura!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

toma que o filme é seu!

Pra começar 2011 optei em trazer aqui parte de um texto escrito pelo colunista Sérgio Rizzo, publicado em 18/01 no site Yahoo.

O tema é o que me interessa: afinal, de quem são os filmes?

"Se o internauta assistiu à entrega do Globo de Ouro, no último domingo, ou ao menos reparou nas fotos da premiação, talvez tenha notado que o diretor de “A Rede Social” não se juntou no palco aos seus colegas quando o filme levou o prêmio de melhor drama de 2010. David Fincher, que havia recebido pouco antes o prêmio de melhor direção, preferiu continuar em sua mesa.

Quem ficou com a estatueta, fez os agradecimentos — inclusive ao próprio Fincher — e teve seus dois minutos de glória? O mesmo sujeito que, em 27 de fevereiro, se confirmadas as expectativas de momento, estará em outro palco, o do Kodak Theatre, diante de uma audiência (na plateia e pela TV) muito maior do que a do último domingo, para receber o Oscar de melhor filme.


Seu nome é Scott D. Rudin, e mesmo entre fãs de cinema haverá quem não o reconheça. Aos 52 anos, ele é um dos principais representantes de uma dinastia que ajudou a erguer Hollywood, a dos produtores e executivos de estúdio. Pelas regras do Oscar e do Globo de Ouro, eles recebem os prêmios de melhor filme, enquanto festivais, como os de Cannes e Veneza, os entregam aos diretores.


Afinal, de quem são os filmes? Do produtor, e do diretor, e do montador, e do diretor de fotografia, e do roteirista, e do elenco, e de uma série de outros profissionais de áreas criativas que combinam seus talentos. Cinema equivale a esporte coletivo. Mas, se toda equipe tem um treinador, alguém que responda por quem vai ao campo ou à quadra, qual seria o equivalente no cinema?


Em Hollywood, durante as primeiras cinco décadas, não havia dúvida: era o produtor. Depois, como explicam muito bem o livro (e também o documentário baseado nele) “Hitchcock, Selznick e o Fim de Hollywood”, a balança começou a pender para o diretor. O livro de entrevistas “Afinal, Quem Faz os Filmes?”, de Peter Bogdanovich, é uma brilhante defesa da segunda tese.


Hoje, na indústria, existem filmes de diretor, existem filmes de produtor, e existem também filmes em que as duas figuras brigam pelo resultado — às vezes para assumir a responsabilidade pelo êxito, outras vezes para acusar o outro pelo fracasso. As recentes demonstrações públicas sugerem que “A Rede Social” é de Fincher, segundo Fincher, e de Rudin, segundo Rudin.


Faz sentido, pois ambos têm personalidades fortes, como se costuma dizer elegantemente. A de Fincher, devido à atenção preferencial dada aos diretores pela mídia desde os anos 50, é mais conhecida do público; sabe-se que o excelente diretor de “Seven” (1995), “Clube da Luta” (1999) e “Zodíaco” (2007) tem muitos desafetos em Hollywood, o que teria lhe custado o Oscar por “O Curioso Caso de Benjamin Button” (2008).


Rudin, figura mercurial dos bastidores da indústria norte-americana, pertence à linhagem de produtores que começaram muito cedo no mundo do entretenimento, alcançaram rapidamente sucesso e acumularam inimigos pelo caminho. Eles não costumam dar entrevistas mas, quando falam, por palavras ou atos, não escondem que se consideram a peça-chave da engrenagem.


O eventual Oscar por “A Rede Social” seria o segundo de Rudin em quatro anos. Foi ele quem subiu ao palco para receber a estatueta de melhor filme por “Onde os Fracos Não Têm Vez” (2007), ao lado dos irmãos Joel e Ethan Coen — que, além de diretores, roteiristas e montadores, também eram produtores.


Naquele ano, Rudin disputava ainda o prêmio de melhor filme como produtor executivo de “Sangue Negro”, de Paul Thomas Anderson, embora não estivesse entre os indicados para recebê-lo, de acordo com as regras da Academia. E, também na mesma temporada, havia produzido mais dois filmes independentes: “Viagem a Darjeeling”, de Wes Anderson, e “Margot e o Casamento”, de Noah Baumbach.


Sua carreira como produtor em Hollywood começou há 30 anos, com um Oscar e um Emmy logo no início pelo documentário “He Makes me Feel Like Dancing” (1983), de Emile Ardolino, que viria a dirigir “Dirty Dancing” (1987). O vistoso currículo inclui passagens por Fox (da qual foi presidente aos 27 anos, voltando em 2010), Paramount e Miramax, e filmes como “Jovens sem Rumo” (1984), “A Família Addams” (1991), “O Show de Truman” (1998), “As Horas” (2002), “A Vila” (2004), “Closer – Perto Demais” (2004), “Foi Apenas um Sonho” (2008) e “Simplesmente Complicado” (2009), entre muitos outros."


Afinal, a quem pertencem os filmes? Cada profissional exerce sua função, traz sua contribuição; talvez uma obra acabe nem saindo do papel se não tiver cada uma dessas funções devidamente executadas – isso se o filme em questão quiser ter uma vida útil, ou seja, ser exibido, correr os riscos do sucesso e do não sucesso.

No Brasil, onde estamos engatinhando em matéria de cinema, temos que começar a pensar nisso também, pois aqui, o melhor título para dar-se a quem faz cinema é ‘realizador’, pois além de captar, produzir, temos que escrever, dirigir, quiçá atuar em nossas produções.

(Sérgio Rizzo é jornalista e professor. Colunista em diversas revistas e sites, dá aulas na Universidade Mackenzie, Faap, Academia Internacional de Cinema, entre outra instituições).

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Roteirista de tv e cinema. Romancista. Idealizador. Produtor. Talvez um ilusionista...