terça-feira, 18 de janeiro de 2011

toma que o filme é seu!

Pra começar 2011 optei em trazer aqui parte de um texto escrito pelo colunista Sérgio Rizzo, publicado em 18/01 no site Yahoo.

O tema é o que me interessa: afinal, de quem são os filmes?

"Se o internauta assistiu à entrega do Globo de Ouro, no último domingo, ou ao menos reparou nas fotos da premiação, talvez tenha notado que o diretor de “A Rede Social” não se juntou no palco aos seus colegas quando o filme levou o prêmio de melhor drama de 2010. David Fincher, que havia recebido pouco antes o prêmio de melhor direção, preferiu continuar em sua mesa.

Quem ficou com a estatueta, fez os agradecimentos — inclusive ao próprio Fincher — e teve seus dois minutos de glória? O mesmo sujeito que, em 27 de fevereiro, se confirmadas as expectativas de momento, estará em outro palco, o do Kodak Theatre, diante de uma audiência (na plateia e pela TV) muito maior do que a do último domingo, para receber o Oscar de melhor filme.


Seu nome é Scott D. Rudin, e mesmo entre fãs de cinema haverá quem não o reconheça. Aos 52 anos, ele é um dos principais representantes de uma dinastia que ajudou a erguer Hollywood, a dos produtores e executivos de estúdio. Pelas regras do Oscar e do Globo de Ouro, eles recebem os prêmios de melhor filme, enquanto festivais, como os de Cannes e Veneza, os entregam aos diretores.


Afinal, de quem são os filmes? Do produtor, e do diretor, e do montador, e do diretor de fotografia, e do roteirista, e do elenco, e de uma série de outros profissionais de áreas criativas que combinam seus talentos. Cinema equivale a esporte coletivo. Mas, se toda equipe tem um treinador, alguém que responda por quem vai ao campo ou à quadra, qual seria o equivalente no cinema?


Em Hollywood, durante as primeiras cinco décadas, não havia dúvida: era o produtor. Depois, como explicam muito bem o livro (e também o documentário baseado nele) “Hitchcock, Selznick e o Fim de Hollywood”, a balança começou a pender para o diretor. O livro de entrevistas “Afinal, Quem Faz os Filmes?”, de Peter Bogdanovich, é uma brilhante defesa da segunda tese.


Hoje, na indústria, existem filmes de diretor, existem filmes de produtor, e existem também filmes em que as duas figuras brigam pelo resultado — às vezes para assumir a responsabilidade pelo êxito, outras vezes para acusar o outro pelo fracasso. As recentes demonstrações públicas sugerem que “A Rede Social” é de Fincher, segundo Fincher, e de Rudin, segundo Rudin.


Faz sentido, pois ambos têm personalidades fortes, como se costuma dizer elegantemente. A de Fincher, devido à atenção preferencial dada aos diretores pela mídia desde os anos 50, é mais conhecida do público; sabe-se que o excelente diretor de “Seven” (1995), “Clube da Luta” (1999) e “Zodíaco” (2007) tem muitos desafetos em Hollywood, o que teria lhe custado o Oscar por “O Curioso Caso de Benjamin Button” (2008).


Rudin, figura mercurial dos bastidores da indústria norte-americana, pertence à linhagem de produtores que começaram muito cedo no mundo do entretenimento, alcançaram rapidamente sucesso e acumularam inimigos pelo caminho. Eles não costumam dar entrevistas mas, quando falam, por palavras ou atos, não escondem que se consideram a peça-chave da engrenagem.


O eventual Oscar por “A Rede Social” seria o segundo de Rudin em quatro anos. Foi ele quem subiu ao palco para receber a estatueta de melhor filme por “Onde os Fracos Não Têm Vez” (2007), ao lado dos irmãos Joel e Ethan Coen — que, além de diretores, roteiristas e montadores, também eram produtores.


Naquele ano, Rudin disputava ainda o prêmio de melhor filme como produtor executivo de “Sangue Negro”, de Paul Thomas Anderson, embora não estivesse entre os indicados para recebê-lo, de acordo com as regras da Academia. E, também na mesma temporada, havia produzido mais dois filmes independentes: “Viagem a Darjeeling”, de Wes Anderson, e “Margot e o Casamento”, de Noah Baumbach.


Sua carreira como produtor em Hollywood começou há 30 anos, com um Oscar e um Emmy logo no início pelo documentário “He Makes me Feel Like Dancing” (1983), de Emile Ardolino, que viria a dirigir “Dirty Dancing” (1987). O vistoso currículo inclui passagens por Fox (da qual foi presidente aos 27 anos, voltando em 2010), Paramount e Miramax, e filmes como “Jovens sem Rumo” (1984), “A Família Addams” (1991), “O Show de Truman” (1998), “As Horas” (2002), “A Vila” (2004), “Closer – Perto Demais” (2004), “Foi Apenas um Sonho” (2008) e “Simplesmente Complicado” (2009), entre muitos outros."


Afinal, a quem pertencem os filmes? Cada profissional exerce sua função, traz sua contribuição; talvez uma obra acabe nem saindo do papel se não tiver cada uma dessas funções devidamente executadas – isso se o filme em questão quiser ter uma vida útil, ou seja, ser exibido, correr os riscos do sucesso e do não sucesso.

No Brasil, onde estamos engatinhando em matéria de cinema, temos que começar a pensar nisso também, pois aqui, o melhor título para dar-se a quem faz cinema é ‘realizador’, pois além de captar, produzir, temos que escrever, dirigir, quiçá atuar em nossas produções.

(Sérgio Rizzo é jornalista e professor. Colunista em diversas revistas e sites, dá aulas na Universidade Mackenzie, Faap, Academia Internacional de Cinema, entre outra instituições).

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Roteirista de tv e cinema. Romancista. Idealizador. Produtor. Talvez um ilusionista...