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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
As velhas formas do... morrer.
Creio que seja difícil, dentro de qualquer profissão, manter as expectativas e a ansiedade controladas, principalmente quando ainda não se tem total controle de sua carreira. Ser um escritor ou um artista das palavras também tem dessas coisas. Optar pelo não desistir, optar por não se meter num emprego ‘seguro’ na esperança de que este traga uma controversa estabilidade, é um febril desafio. Digo isso por que acabei de completar dois anos nessa nova profissão, dois anos que entrei de cabeça no ofício da invenção de histórias. Porém, não é sobre isso que quero falar, esta introdução foi apenas um desatino...
São inesperadas as situações que rodeiam a vida profissional
e até a vida particular daqueles que trabalham contando fábulas. E o ‘causo’ da
vez tem a ver com a morte (faz tempo que ela vem me perseguindo em meus textos,
seria um sinal?).
Acho que já falei aqui como matar um personagem é uma grande
responsabilidade.
Ah! Os personagens... Chega um dado momento eles ganham vida
própria, vivem, falam, agem, reagem como se fossem donos de suas próprias
vontades, parecem ter livre arbítrio. Sendo assim, como exterminar esses seres
viventes? Mesmo que seja o pior dos canalhas, o vilão dos vilões. Não é fácil
matar...
Acontece que acabei de escrever um longa e nele matei o cachorro da história, uma espécie de herói, um
mocinho de quatro patas... Eu o matei.
Só que esse ato fez com que eu fosse expressamente advertido
- de forma cômica aliás -, mas verdadeiramente repreendido pelo produtor, que
bradou aos quatro ventos, “Como você pôde matar o fulano, não se mata um cão
num filme juvenil!”, E olha que eu já tinha matado um cachorro antes, e num
filme juvenil*.
Saí da reunião cabisbaixo, com aquilo na cabeça, era uma das
poucas alterações de um trabalho de 120 páginas, fiquei feliz por ter atingido
o objetivo, contudo inquieto por ter matado um cão tão humano quanto aquele do
roteiro. Bem, depois de muito pensar, revisar, entender a história, o pobre
cachorrinho continuou morrendo, entretanto de uma forma menos chocante.
Mas tudo isso ainda me intriga. A mim não importa a produção
em questão, matar um animal é tão ou mais doloroso que matar um ser humano.
Passou pela minha cabeça alguns filmes onde cachorros morrem: Meu Cachorro Skip, ele morre; Moonrise Kingdom, eles matam o cão; Lassie, num dos filmes da série, há um
cãozinho que estica as canelinhas, enfim...
A morte faz parte seja da ficção ou da vida real. E hoje,
quando lia uma poesia de uma jovem poetisa que conheço, a magia que se formava
naquelas sábias palavras definiu minha opinião, na história que ela narrava “a
mocinha morre no final”.
Entendi então que a mocinha sempre morre no final. É como se
o “fim” talhado sobre a última cena, ou o pagar das luzes do cinema, não
impedisse a vida além-tela de continuar. É como se a mocinha depois de enfrentar
e vencer todas as tormentas impostas pelo roteiro, depois de viver feliz para
sempre ao lado de seu herói - mesmo que longe de olhos espectadores -, seguisse
o ciclo universal da vida e assim, anos mais tarde, ao envelhecer, encontrasse
seu merecido, inevitável e derradeiro descanso.
Foi esse o pensamento que me ocorreu no cerrar da tarde de
hoje, foi essa a ideia que me trouxe aqui: no infringir dos ovos, no avinagrar das
películas, sendo o tempo o rei, bandidos, mocinhas e até mesmo cãezinhos irão
morrer no final, e não existe roteirista ou criador capaz de mudar esta verdade.
Contudo e pelo menos, este singelo ou arrebatador final a
gente nunca vai conhecer. Ainda bem, assim a doce ilusão vai para sempre
continuar...
* Os dois filmes citados no
trecho estão em fase de pré-produção.
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- Roteirista de tv e cinema. Romancista. Idealizador. Produtor. Talvez um ilusionista...