sexta-feira, 29 de julho de 2011

pra gringo ver?


Acabo de abrir meu provedor de e-mails e antes de conseguir ler meus recados fui atropelado por uma infinidade de notícias, ou pelo menos manchetes atraentes, que, bastando um simples clicar, me trariam à tela tudo o que está acontecendo pelo mundo. Não ignoro o fato de que a internet é mesmo algo de fantástico, um giro pelo planeta em apenas um piscar de olhos.
Decidi passear pelos assuntos do momento antes de ler meus e-mails profissionais. Tinha de tudo ali: o plano contra o avanço da inflação, autoridades no assunto jurando que o país jamais voltará a ser assombrado pelos fantasmas da década de oitenta; falavam sobre o caso Murdoch, que abalou a “impoluta política” inglesa; falavam também do assassino serial que acabou com a vida de mais de setenta na Noruega, “Justo na Noruega, um país tão civilizado!?”, pregava alguém, “E por que não lá, por que só aqui?”
Vi também matérias sobre como cuidar melhor da pele no inverno, como se proteger da gripe do inverno; culinária, e claro entretenimento. E qual é a maior fonte de entretenimento do brasileiro? A TV, em especial as novelas. Foi aí que me veio a deixa, “roteiros”, para poder comentar aqui neste blog temático. Em destaque: “Mortes esquentam semanas finais da sua novela das nove”.
Faz muito tempo que as novelas já não são meu filão preferido, a não ser as antigonas que estão sendo exibidas num canal a cabo. Essa novela das nove, em especial, nunca me atraiu em nada, mesmo assim, como roteirista que sou, resolvi dar uma espiadela na manchete. As mortes: o galã afro-descendente iria ter os testículos arrancados depois de diagnosticada doença; casal gay iria morrer depois de playboyzinho declarar que “veado bom é veado morto”; e novamente, o vilão iria ser assassinado para capítulos depois ter o nome do carrasco (ou seria vingador?) revelado.
Juntando matança na Noruega, matança em Realengo, morte de cantora drogada, gays sendo atacados nas ruas, 250 mortos em acidente de avião mal explicado... Será mesmo que a criatividade acabou?
Então as perguntas começaram a atormentar meu pensamento criativo:
“O que pode realmente influenciar uma dita população desavisada: o tal beijo gay do qual tanto se fala, ou o massacre dessa fatia da população em pleno horário nobre?”
“Por que o galã negro tem que morrer e não se converter, ser feliz? Vamos mostrar a essa população careta que qualquer um, independente de classe, cor ou orientações pode ter um futuro interessante.”
“E esse vilão fajuto, assassinado?”
Poxa, existem tantas formas de se castigar um vilão, principalmente numa história fictícia. Tudo se tornou muito chato, o politicamente correto está acabando com a inventividade de nossos escritores. Não estou aqui falando como um candidato a romancista, e sim como um espectador frustrado.
Compara-se tanto Brasil e EUA, “Um Oscar para os tupiniquins”, “Filmar em Hollywood...”
A telenovela brasileira é imbatível, mas a ignorância da maior parte do público também. Lá, na gringa, séries com protagonistas negros já existem há séculos; beijo gay acontece pelo menos uma vez por dia; um destino insólito para vilões não menos egocêntricos é o que mais se vê, e tudo sem alarde. São temas polêmicos inseridos no cotidiano da televisão sem causar esse alarme tão desnecessário. O roteiro precisa ser livre, deve acontecer sem drama, o espectador uma hora ou outra vai achar normal, comum, por isso existe a classificação etária, entretanto, existem também aqueles pais que largam seus filhos na frente da TV sem se importarem com o conteúdo que está sendo consumido, sem educá-los na medida certa.
Não estou generalizando e nem dizendo para o Brasil copiar os EUA, nem tão pouco alegando que a receita deles é melhor, estou dizendo que, já que imitam tanta coisa errada dos americanos, é hora de começar a beber na água daquilo que eles têm de menos pecaminoso.

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Roteirista de tv e cinema. Romancista. Idealizador. Produtor. Talvez um ilusionista...