quarta-feira, 10 de novembro de 2010

a cidade

Fiquei alguns meses trabalhando entre quatro paredes das 9h30 às 18h30, às vezes mais, às vezes menos, aos sábados, nos domingos. Fiquei por um bom tempo afastado das minhas fontes de energia criativa. Não pude participar do dia a dia acelerado da cidade, não pude ser testemunha ocular da última mudança da estação...

Dia desses voltei a caminhar pelas ruas movimentadas de São Paulo, senti o sol forte no rosto, desviei dos mais agitados. Nesse mesmo começo de noite retornei ao botequim de sempre e fui recebido de braços abertos pelos antigos amigos. Como sempre digo, botequim é um verdadeiro oásis para a inspiração e dessa vez não foi diferente. Numa das mesas a menina revelava às amigas, perplexas, que trairia sem constrangimentos o namorado; mais adiante um casal na casa dos 50 comemorava algo que juro, não consegui identificar o quê; no final do balcão, meio cabisbaixo, um cliente de longa data solitário; sozinho eu também estava, contudo, por mais que tentemos nos manter invisíveis aos olhos de outrem, os olhos da cidade parecem sempre encontrar um feixe de luz para refletir sobre nós. A cidade é um campo minado de possibilidades e isso é o que mais me enfeitiça na metrópole em que vivo.

Escrevendo este post me recorreu um exemplo notório de como a cidade pode ser um excelente tema para um roteiro cinematográfico.

No meu mais recente trabalho como produtor de eventos fiz questão de inserir este filme na programação. O festival aconteceria numa pequenina cidade do interior, tive medo da reação do público, mas para minha surpresa foi o mais aplaudido. Estou me referindo ao ótimo O SIGNO DA CIDADE, com direção de Carlos Alberto Riccelli e um belo roteiro criado pela não menos bela e inspirada Bruna Lombardi. O filme já tem pelo menos 2 anos de estrada e é realmente um dos meus preferidos dentro do chamado “novo cinema nacional”. Um roteiro consistente, a história que te pega a fundo, núcleos bem definidos, situações, pontos de virada, espaço para o riso, o choro, a reflexão e principalmente para a emoção, que a meu ver, quanto sentimento, é o mais sutil dos alvos que uma obra deve tocar.

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Roteirista de tv e cinema. Romancista. Idealizador. Produtor. Talvez um ilusionista...